quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sobre gentileza que gera gentileza

Muita gente deve ter visto este vídeo né? É um bom exemplo de educação. Uma coisa que particularmente me irrita bastante é o fato de certas pessoas usarem a sinceridade como desculpa pra serem mal educadas. Hoje eu não quero reclamar de nada, quero somente contar algo que aconteceu comigo há alguns dias atrás.

Fui ao supermercado, excepcionalmente sem a companhia da minha interessante e agradável adjutora. Fiz minhas compras em paz, paguei, esqueci as sacolas retornáveis que a gente normalmente usa, e por isso coloquei as sacolas plásticas no carrinho, e me encaminhei ao estacionamento. O que aconteceu depois é que foi interessante.

No meio do estacionamento, a grade que fecha a parte de trás do carrinho se soltou, e algumas sacolas caíram no chão. Percebi logo que a garrafinha de sabão líquido tinha quebrado. O chão ficou com uma poça azul enorme. Aí aquela sensação de raiva. Enquanto eu pensava no que ia fazer, recolhi a garrafa, encostei num canto do porta-malas com a rachadura virada para cima, e comecei a colocar as outras sacolas, ainda pensando se valia a pena voltar e reclamar. Um carro encostou. Um senhor me disse o seguinte:

- Já chamei o encarregado pra trocar essas coisas que quebraram.
- Obrigado.
- De nada.

O encarregado chegou em 30 segundos, perguntou o que tinha quebrado, levou a garrafa quebrada, trouxe uma nova, pediu desculpas, e ainda substituiu a alface que tinha ficado com um pouco de sabão.

Fiquei dias ponderando sobre isso. Gentileza gera gentileza.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sobre o ensino em cursos superiores no Braseel.

Eu sou feliz por ser casado. Eu e minha querida esposa temos várias discussões filosófico-político-religiosas, geralmente dentro do carro, nos nossos trajetos diários. Quando conversamos sobre o ensino nas faculdades da nossa República Federativa, tendemos a sempre comparar os cursos universitários que fizemos, ambos da Universidade Federal de Pernambuco. Ela estudou Comunicação (Publicidade e Propaganda) e eu, Direito. Existem algumas diferenças interessantes entre o escopo filosófico dos dois cursos, que são quase completamente antagônicos.

A Faculdade de Direito do Recife, para quem não conhece, é o nome do Centro de Ciências Jurídicas da UFPE. É a única faculdade, exceto as que estão no interior do estado, obviamente, que está separada do campus da Universidade, ficando localizada no centro da cidade. Por ser um curso extremamente tradicional, criado por decreto imperial em 1827 (daí o tal dia do advogado, ou dia do pendura), o dia-a-dia da faculdade é cheio de detalhes interessantes, como a atuação sempre muito ativa do movimento estudantil e do Diretório Acadêmico, e o fato de os estudantes não interagirem quase nunca com os outros centros da UFPE.


O Centro de Artes e Comunicação (onde minha amada estudou) fica bem no meio do campus, e congrega estudantes de diversos cursos de graduação, incluindo artes plásticas, design, artes cênicas, expressão gráfica, letras, arquitetura e urbanismo, comunicação, cinema, e mais alguns. A efusão cultural é muito forte. O próprio prédio foi concebido para funcionar como uma galeria de arte, com amplos espaços vazios, onde são feitas exposições periodicamente, e salas abertas na parte de cima, e que podem ser vistas por quem passa nos corredores superiores.

O ponto onde eu queria chegar, entretanto, é o do ensino. Na FDR, boa parte dos professores é composta por servidores públicos das mais altas esferas do Poder Judiciário e do Ministério Público: juízes, promotores, procuradores da república. Temos ainda procuradores federais, advogados da união, procuradores da fazenda nacional, advogados e alguns (poucos) que se dedicam exclusivamente à academia. Esse fato, aliado ao constante processo de "mumificação" de (frizo) alguns dos docentes, nos leva a certas distorções. Falo de professores que não buscam se atualizar em termos de conteúdo das disciplinas, e continuam trabalhando conceitos superados, ideias atrasadas, ou até - pasmem! - diplomas legais revogados. Eu não estou brincando, um professor não pode falar a mesma coisa em diversas turmas ao longo de 15, 20 anos, isso é loucura! O pensamento humano evolui, e nós precisamos evoluir junto, especialmente para podermos acompanhar o mercado.

Sim, o nosso não tão querido mercado! Quem me conhece sabe o quanto sou avesso a essa da existência de um ente supraespiritual capaz de regular todas as relações econômicas, promovendo o bem-estar humano como um esquisito resultado da busca por interesses pessoais. Entretanto, não podemos negar que o tal mercado existe, e geralmente não é nosso amigo. Precisamos nos preparar para enfrentá-lo. Não falo apenas do mercado profissional, em que várias pessoas concorrem a uma vaga de emprego em algum lugar. Aqueles nobres espíritos que querem seguir o difícil caminho da academia também se submetem a um mercado, e existem critérios que vão determinar se serão agraciados ou não com certas oportunidades.

O jurista que passa hoje pela FDR só aprende a se preparar para o mercado nos estágios em escritórios de advocacia e cursinhos para concurso público. Isso é fato. Há quem diga que "esse negócio de preparar profissional pro mercado é coisa de curso técnico. Universidade é pesquisa". Tenho pena. Não me interpretem mal, curso técnico e graduação não podem ser a mesma coisa, mas a pesquisa, que é fundamental, precisa estar alinhada com o que o mercado oferece, ou não servirá para muita coisa. Vocês não acham meio cansativo? Várias pessoas escrevendo várias coisas que ninguém nunca mais vai ler? Essas são as nossas monografias.

O CAC tem seus problemas, múmias, criaturas quem transmitem mensagens incompreensíveis, os cursos não são tão tradicionais, e ainda estão engatinhando em termos de arcabouço filosófico. A maior parte desses cursos é nova, e eles ainda estão começando a discutir se existe ou não uma ciência da comunicação ou das artes, e que tipo de abordagem as universidades devem adotar para estudá-las. Uma coisa, porém, é fato. Os estudantes, ao menos, tem consciência da falta de uma abordagem prática em certas disciplinas. Eles se preocupam com o tal mercado.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre a atual situação da Nokia

Frequentemente os amigos me procuram pedindo ajuda pra escolher um celular pra comprar. Eu sempre respondo que a escolha depende do que você espera do equipamento, e de quanto você está disposto a gastar. Quase sempre, então, a pergunta seguinte é: "melhor comprar Nokia né?". E eu sempre respondo que não, a não ser que você seja adepto do simplismo, e queira um celular apenas para falar, mandar e receber SMS. Resolvi então escrever esse post pra explicar qual é a razão de eu não indicar esse fabricante, especificamente.

Em um post anterior, eu expliquei a grande guerra empresarial hoje no mercado de celulares high-tech, que tem vários fabricantes e o Google, com o Android, de um lado, e a Apple, com o iPhone, do outro. Entre os muitos fabricantes que eu cite, a Nokia não está incluída. Eles apostaram no desenvolvimento de uma plataforma chamada Symbian, que foi, por algum tempo, adotada por alguns outros fabricantes, mas deixada de lado com o surgimento do Android. A Nokia foi teimosa e continuou lá desenvolvendo celulares com Symbian, como o N95, que fez um sucesso absurdo, e até hoje muita gente tem, e até o N9, que foi lançado alguns dias atrás. Eles também utilizaram em alguns aparelhos uma espécie de Linux, que foi chamada de Maemo, e, depois de MeeGo, que é o presente no N900, que faz muito sucesso em outros países.

O que aconteceu foi que os aparelhos de alta performance da Nokia ficaram pra trás. Hoje as opções que você tem são gastar uma grana preta pelo glamour, design e usabilidade do iPhone, ou gastar valores variados para comprar um Android, já que o mercado tem celulares que custam entre R$ 400,00 e R$ 2.000,00. Tanto o iPhone quanto o Android tem suas lojas de aplicativos, com centenas de milhares de opções de software, boa parte gratuita, e outra custando muito pouco, que conferem ao equipamento funcionalidades variadas. Eu, por exemplo, uso aplicativos que me dão a previsão do tempo, o horário dos vôos em tempo real (usando a base de dados da Infraero), acesso a qualquer rede social, ou várias delas ao mesmo tempo e email, além dos comunicadores instantâneos, aplicativos de notas, texto, planilhas, pdf, etc. Enfim, você pode encontrar quase qualquer coisa, desde clientes de VPN até joguinhos pra quando você estiver esperando o dentista.

E a Nokia? Como ficou? Eles tentaram criar uma loja também, a OviStore, mas sem muitas vantagens para os desenvolvedores, e fracassaram. A virada aconteceu quando um sujeito chamado Stephen Elop saiu da Microsoft e foi para a nossa queridinha finlandesa. Logo depois, foi anunciada uma parceria da Nokia com a MSN, para fabricar celulares que usariam o novo sistema operacional dos amiguinhos de Bill Gates, chamado de Windows Phone 7. A Nokia não quis usar o Android de jeito nenhum, por várias razões, e a melhor alternativa que eles encontraram foi firmar essa parceria. No começo, disseram que ainda iam investir no MeeGo, mas logo desdisseram.

Tudo bem que as ações da Nokia caíram 8% no momento do anúncio, mas, ainda assim, eu acredito que, quando for lançado o primeiro Nokia com Windows Phone 7 (eles prometem pro fim de 2011), ele vai ser uma boa alternativa de compra, já que o tal sistema operacional está sendo muito bem recomendado pelos especialistas mundo afora.

Só pra arrematar a explicação, todas essas informações se referem aos chamados smartphones. No mercado pouco lucrativos dos celulares mais simples, a Nokia continua firme e forte com o Symbian, e é líder de mercado.

Sobre a buRRocracia

Ontem, conversando com bons amigos-filósofos-colegas-consurseiros aqui do trabalho, lembrei de um causo, e resolvi compartilhar.

Estávamos chegando em Brasília, eu tinha acabado de ser nomeado num concurso, e estávamos procurando um lugar pra morar enquanto eu me preparava para tomar posse. Pois bem, procuramos com muita paciência, olhamos dezenas de apartamentos, até encontrarmos aquele que agradou. Cheguei à imobiliária levando vários documentos.

- Quero alugar este apartamento (apontando no catálogo).
- Identidade, CPF, contracheque, comprovante de residência e certidão de casamento, com cópias, para analisarmos seu cadastro, por favor.
- Minha identidade e CPF estão aqui, e a certidão de casamento também, inclusive com cópias, mas eu não posso te dar um contracheque porque acabei de pedir demissão do antigo emprego para tomar posse num órgão público aqui em Brasília.
- Lamento, senhor. Sem o documento, não poderemos analisar seu cadastro.
- Mas veja bem, eu estou me mudando pra essa cidade justamente pra trabalhar em outro lugar. Como ainda não tomei posse, não tenho como comprovar essa renda.
- O senhor não tem contracheque ainda?
- Não, meu amigo, ainda não comecei a trabalhar.
- Então não vamos poder analisar seu cadastro, senhor. Somente com contracheque.
- Esse contracheque pode ser do mês passado?
- Acredito que não tenha nenhum problema.

Perceberam a situação bizarra? Eu comprovei a renda que eu não tinha mais, mesmo explicando isso ao atendente, e ele não viu nenhum problema nisso. Esse é o exemplo da burocracia, no mau sentido mesmo, aquela burocaria da cegueira, que todos nós chamamos de buRRocracia, e que apenas permite que os problemas sejam resolvidos com papeis, em vez de diálogo. Acham que o diálogo findou aí? Voltei no dia seguinte, e entreguei cópia do contracheque do mês anterior. À tarde me ligaram da imobiliária:

- Senhor Paulo, analisamos a documentação que o senhor entregou, mas percebemos a falta do comprovante de residência.
- Mas eu estou me mudando pra Brasília para trabalhar, e procurando um lugar pra morar. Como eu vou comprovar residência?

E viva a buRRocracia!

Sobre a morte de Paulo Renato

Dois posts seguidos sobre morte! Muito mórbido, não? Diferentemente do retromencionado Bin Laden, cuja morte foi comemorada em vários lugares do mundo, especialmente numa região localizada no noroeste do mapa-Mundi, a morte do ex-Ministro da Educação Paulo Renato foi noticiada com pesar pela imprensa brasileira na semana passada. Não conheço muito da trajetória política do rapaz, mas fiquei pensando a razão de se festejar o responsável direto pela estagnação educacional do governo de FHC, que é incontestável.

Finalmente encontrei as explicações, no primoroso post de Idelber Avelar, no blog Outro Olhar. Reproduzo na íntegra o conteúdo.



O QUE VOCÊ NÃO LEU NA MÍDIA SOBRE PAULO RENATO (1945-2011)


28 de junho de 2011 às 5:44
Morreu de infarto, no último dia 25, aos 65 anos, Paulo Renato Souza, fundador do PSDB. Paulo Renato foi Ministro da Educação no governo FHC, Deputado Federal pelo PSDB paulista, Secretário da Educação de São Paulo no governo José Serra e lobista de grupos privados. Exerceu outras atividades menos noticiadas pela mídia brasileira.
Nas hagiografias de Paulo Renato publicadas nos últimos dois dias, faltaram alguns detalhes. A Folha de São Paulo escalou Eliane Cantanhêde para dizer que Paulo Renato deixou um “legado e tanto” como Ministro da Educação. Esqueceu-se de dizer que esse “legado” incluiu o maior êxodo de pesquisadores da história do Brasil, nem uma única universidade ou escola técnica federal criada, nem um único aumento salarial para professores, congelamento do valor e redução do número de bolsas de pesquisa, uma onda de massivas aposentadorias precoces (causadas por medidas que retiravam direitos adquiridos dos docentes), a proliferação do “professor substituto” com salário de R$400,00 e um sucateamento que impôs às universidades federais penúria que lhes impedia até mesmo de pagar contas de luz. No blog de Cynthia Semíramis, é possível ler depoimentos às dezenas sobre o que era a universidade brasileira nos anos 90.

Ainda na Folha de São Paulo, Gilberto Dimenstein lamentou que o tucanato não tenha seguido a sugestão de Paulo Renato Souza de “lançar uma campanha publicitária falando dos programas de complementação de renda”. Dimenstein pareceu desconsolado com o fato de que “o PSDB perdeu a chance de garantir uma marca social”, atribuindo essa ausência a uma mera falha na campanha publicitária. O leitor talvez possa compreender melhor o lamento de Dimenstein ao saber que a sua Associação Cidade Escola Aprendiz recebeu de São Paulo a bagatela de três milhões, setecentos e vinte e cinco mil, duzentos e vinte e dois reais e setenta e quatro centavos, só no período 2006-2008.

Não surpreende que a Folha seja tão generosa com Paulo Renato. Gentileza gera gentileza, como dizemos na internet. A diferença é que a gentileza de Paulo Renato com o Grupo Folha foi sempre feita com dinheiro público. Numa canetada sem licitação, no dia 08 de junho de 2010, a FDE da Secretaria de Educação de São Paulo transfere para os cofres da Empresa Folha da Manhã S.A. a bagatela de R$ 2.581.280,00, referentes a assinaturas da Folha para escolas paulistas. Quatro anos antes, em 2006, a empresa Folha da Manhã havia doado a curiosa quantia–nas imortais palavras do Senhor Cloaca–de R$ 42.354,30 à campanha eleitoral de Paulo Renato. Foi a única doação feita pelo grupo Folha naquela eleição. Gentileza gera gentileza.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor do Grupo Folha. Os grupos Abril, Estado e Globo também receberam seus quinhões, sempre com dinheiro público. Numa única canetada do dia 28 de maio de 2010, a empresa S/A Estado de São Paulo recebeu dos cofres públicos paulistas–sempre sem licitação, claro, porque “sigilo” no fiofó dos outros é refresco–a módica quantia de R$ 2.568.800,00, referente a assinaturas do Estadão para escolas paulistas. No dia 11 de junho de 2010, a Editora Globo S.A. recebe sua parte no bolo, R$ 1.202.968,00, destinadas a pagar assinaturas da Revista Época. No caso do grupo Abril, a matemática é mais complicada. São 5.200 assinaturas da Revista Veja no dia 29 de maio de 2010, totalizando a módica quantia de R$1.202.968,00, logo depois acrescida, no dia 02 de abril, da bagatela de R$ 3.177.400, 00, por Guias do Estudante – Atualidades, material de preparação para o Vestibular de qualidade, digamos, duvidosíssima. O caso de amor entre Paulo Renato e o Grupo de Civita é uma longa história. De 2004 a 2010, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação de São Paulo transfere dos cofres públicos para a mídia pelo menos duzentos e cinquenta milhões de reais, boa parte depois da entrada de Paulo Renato na Secretaria de Educação.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grandes grupos de mídia brasileiros. Ele também atuou diligentemente em favor de grupos estrangeiros, muito especialmente a Fundação Santillana, pertencente ao Grupo Prisa, dono do jornal espanhol El País. Trata-se de um jornal que, como sabemos, está disponível para leitura na internet. Isso não impediu que a Secretaria de Educação de São Paulo, sob Paulo Renato, no dia 28 de abril de 2010, transferisse mais dinheiro dos cofres públicos para o Grupo Prisa, referente a assinaturas do El País. O fato já seria curioso por si só, tratando-se de um jornal disponível gratuitamente na internet. Fica mais curioso ainda quando constatamos que o responsável pela compra, Paulo Renato, era Conselheiro Consultivo da própria Fundação Santillana! E as coincidências não param aí. Além de lobista da Santillana, Paulo Renato trabalhou, através de seu escritório PRS Consultores – cujo site misteriosamente desapareceu da internet depois de revelações dos blogs NaMaria News eCloaca News–, prestando serviços ao … Grupo Santillana!, inclusive com curiosíssima vizinhança, no mesmo prédio. De fato, gentileza gera gentileza. E coincidência gera coincidência: ao mesmo tempo em que El País “denunciava”, junto com grupos de mídia brasileiros, supostos “erros” ou “doutrinações” nos livros didáticos da sua concorrente Geração Editorial, uma das poucas ainda em mãos do capital nacional, Paulo Renato repetia as “denúncias” no Congresso. O fato de a Santillana controlar a Editora Moderna e Paulo Renato ser consultor pago pelo Grupo Santillana deve ter sido, evidentemente, uma mera coincidência.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grupos de mídia, brasileiros e estrangeiros. O ex-Ministro também teve destacada atuação na defesa dos interesses de cursinhos pré-vestibular, conglomerados editoriais e empresas de software. Como noticiado na época pelo Cloaca News, no mesmo dia em que a FDE e a Secretaria de Educação de São Paulo dispensaram de licitação uma compra de mais R$10 milhões da InfoEducacional, mais uma inexigibilidade licitatória era anunciada, para comprar … o mesmíssimo produto!, no caso o software “Tell me more pro”, do Colégio Bandeirantes, cujas doações em dinheiro irrigaram, em 2006, a campanha para Deputado Federal do candidato … Paulo Renato! Tudo isso para não falar, claro, do parque temático de $100 milhões de reais da Microsoft em São Paulo, feito sob os auspícios de Paulo Renato, ou a compra sem licitação, pelo Ministério da Educação de Paulo Renato, em 2001, de 233.000 cópias do sistema operacional Windows. Um dos advogados da Microsoft no Brasil era Marco Antonio Costa Souza, irmão de … Paulo Renato! A tramóia foi tão cabeluda que até a Abril noticiou.

Pelo menos uma vez, portanto, a Revista Fórum terá que concordar com Eliane Cantanhêde. Foi um “legado e tanto”. Que o digam os grupos Folha, Abril, Santillana, Globo, Estado e Microsoft.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sobre a morte de Bin Laden

Todo mundo já tá cansado de ouvir falar da morte de Osama Bin Laden. E eu fiquei devendo o post sobre o casamento real, agora o momento já passou né? Pois bem, eu acho que a morte do bisonho terrorista, representante da mais bizarra facção do islamismo fundamentalista, é um fato muito mais relevante do que o casamento do neto da rainha (hoje todo mundo é prícipe né?) com uma moça bilionária com quem ele já mora há 8 anos.

Pois bem, eu estava tentando dormir quando ouvi na TV a machete em um canal de notícias: "Americanos anunciam a morte de Bin Laden". Meu primeiro pensamento foi o seguinte: "Como os americanos tem tanta certeza que o rapaz morreu?". Depois foi que eu entendi que na verdade os americanos mataram Osama. Como esse blog não tem nada de jornalístico, mas é um instrumento puramente opinativo, resolvi escrever esse post com minhas impressões sobre a estranheza do acontecimento. Em ordem.

1º) Os americanos simplesmente entraram na casa do sujeito, mataram ele e mais uns quatro ou cinco, confirmaram que ele não estava armado, e todo mundo acha isso normal. Só pra lembrar quem não costuma assistir a "filmes de advogado" que nos Estados Unidos frequentemente as pessoas não são condenadas por falta de provas. Foram eles que inventaram a história dos frutos da árvore envenenada e tudo mais.

2º) O terrorista estava no Paquistão. Isso mesmo, era no Paquistão. Os americanos entraram lá sem mais nem menos, sem pedir permissão, sem planejar ação conjunta nem nada. E todo mundo acha que tá tudo certo.

3º) Jogaram o corpo do cara no mar depois de fazer um exame de DNA. Pra quê se livrar do corpo mesmo? E ainda declararam que respeitaram a tradição islâmica quanto ao sepultamento. É óbvio.

Balanço final: ninguém viu o corpo, ninguém viu o material genético, ninguém tem certeza de nada, ninguém estranhou nada. Eu não quero defender o maluco-terrorista-genocida, mas não vou me surpreender se ele aparecer num videozinho qualquer dia desses dando uma de Joseph Klimber.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sobre as chuvas no Recife

Terminei um trabalho da faculdade agora, mas continuo com vontade de escrever. O pobre blog andava meio abandonado, por causa dos concursos públicos e dos imperativos acadêmicos, mas eu me comprometo a não mais fazer isso, para a honra dos meus assíduos (4 ou 5) leitores.

Pois bem, a situação é a seguinte. Cheguei de Recife ontem, e passei maus bocados. Quem me conhece sabe que eu tenho mania de informação, e por isso, além de ver a confusão gerada por causa das chuvas, eu acompanho outras informações nos veículos de comunicação, principalmente na internet. É desgraça pra todo lado.

Eu vinha de carro pela Av. Visconde de Albuquerque, na Madalena, em direção à Torre, e queria dobrar à direita para pegar a Av. Beira Rio no acesso às Graças. Dobrei e voltei três ou quatro vezes, porque as pequenas ruas estavam parecendo riachos. A Agamenon Magalhães só se sustenta até o canal transbordar, e parece que hoje isso vai acontecer. A Domingos Ferreira já fica cheia só com a maré alta, imagine com chuva. A Avenida Recife já tinha correnteza própria.

Tudo bem, vamos dar uma pesquisada no Google. Recife foi citada pela primeira vez em 1534, quando ainda era uma vilazinha. Eu aposto um rim que naquela época já havia alagamentos. A primeira enchente oficialmente registrada foi em 1632. Quem nunca ouviu falar da enchente de 1975? E do mito do estouro de Tapacurá?? Sobre o assunto, recomendo o ótimo artigo de Maria do Carmo Ferreira, disponível aqui.

Pois bem, eu me sinto como se estivesse vivendo no passado. Ou melhor, como se estivesse observando o passado, já que eu não estou no meio da confusão. Hoje as empresas e escolas suspenderam as atividades, um shopping fechou as portas no meio da tarde porque a água estava entrando, e agora todo mundo está preocupado com Tapacurá.

O ilustre prefeito ninguém sabe onde está. As CODECIR e a CODECIPE, bem como a CTTU dizem que não há motivo para preocupação, o que é no mínimo bizarro. Se alguém se pergunta sobre a viabilidade de soluções, tomemos o exemplo da Holanda, onde já estão construindo estruturas imobiliárias flutuantes e onde fizeram a maior comporta do mundo, sem falar nas inúmeras outras obras, especialmente de desassoreamento e revitalização dos rios.

É uma pena que, quanto a esse assunto, pouco tenha mudado de 1632 até agora, e muito pouco do ano passado pra cá, quando as chuvas arrasaram Palmares e Barreiros. Eu decidi. De hoje em diante só voto em prefeito e governador que tenham na plataforma propostas de planos para evitar esse tipo de tragédia.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sobre o apagão no Nordeste

Não venham querer me dizer que o apagão que deixou o nordeste quase inteiro por horas no escuro na semana passada tem alguma semelhança com o problema ocorrido entre 2001 e 2002. Isso é ignorância. Para quem quiser saber, vou explicar as diferenças.

O que aconteceu há quase dez anos atrás foi um problema estrutural. Explico. Não quero falar em política hoje (isso cansa), mas o governo da época passou alguns anos sem investir na expansão do sistema brasileiro de geração de energia elétrica. Obviamente, a demanda por energia, especialmente em países em desenvolvimento, tende a crescer. Nesses países, incluído o Brasil, a população cresce a cada ano, e a atividade industrial também tende à expansão. Esses dois fatores elevam a demanda de energia, mas isso tudo é previsível. O que aconteceu foi que o país não era mais capaz de produzir a energia que precisava consumir, simples assim.

Eu me lembro bem dessa época. Eu estava no início do ensino médio, no Colégio Militar, em Recife. Apesar de, como todo mundo sabe, a escola ser muito boa, a estrutura deixava um pouco a desejar. As salas não tinham ar-condicionado. Lembrem-se que eu estou falando de Recife, onde a temperatura não é muito amena. O Poder Executivo instaurou uma política de economia de energia, estabelecendo metas de redução de consumo para os entes públicos. Alguém imagina quais foram as medidas adotadas no colégio? Desligar os ventiladores. Não, não é brincadeira. Os ventiladores tinham que ficar desligados num determinado horário. Deu pra perceber por que eu lembro né?

Pois bem, vamos ao que aconteceu na semana passada. A energia necessária para iluminar o Nordeste foi produzida? Sim. Então qual foi o problema? Um defeito num equipamento que controla a transmissão. Parte das linhas foi simplesmente desligada por uma fala eletrônica. Isso é um problema? Claro. Grave? Sim, afinal de contas gera prejuízos, desconforto, insegurança. Precisa ser solucionado? Sem dúvida.

Mas não me venham querer fazer comparações esdrúxulas, dizendo que é a mesma coisa...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sobre o Big Brother

Artigo: A pedagogia do grande irmão platinado


Por Elaine Tavares* – 26/01/11

Outro dia li um artigo de alguém criticando o que chamava de pseudo-esquerda que fica falando mal do BBB, mas que também dá sua espiadinha. E também li outras coisas de pessoas falando sobre o quanto há de baixaria no “show de realidade” da Globo. Fiquei por aí a matutar. E fui observar um pouco deste zoológico humano que a platinada oferece na suas noites. Agora é importante salientar que a gente nem precisa assistir para saber tudo o que se passa. É só estar vivo para saber. As notícias estão no jornal, no ônibus, no elevador, em todos os lugares. Então esse papo de que quem critica é hipócrita porque também vê não tem qualquer sentido. As coisas da indústria cultural nos são impostas de forma quase que totalitária. É praticamente impossível fugir destes saberes. Mesmo no terminal, esperando o ônibus, lá está o anúncio luminoso onde buscamos o horário do busão, dando as “notícias” dos broders. É invasivo e feroz.

Mas enfim, sou um bicho televisivo, e gosto de ficar feito uma couve em frente ao aparelho de TV analisando o que é que anda engravidando as gentes deste grande país que se alfabetiza por esta janelinha. Lá fiquei acompanhando alguns episódios do triste programa. Deveras, me causa espécie. Mas não falo pelo quê de promíscuo ou imoral possa ter o “show”, já que coisas do tipo que se vêem ali também são possíveis de ver na novela, nos filmes, etc... O que me apavora é capacidade de ser tão perverso e desestruturador de consciências. Está bem, as pessoas estão ali porque querem, elas mandam vídeos, se oferecem, morrem até para estar naquela casa, em busca do que pensar ser seu lugar ao sol. Mas, ainda assim, é perverso demais o que os “inventores” fazem com aquelas tristes criaturas.

Sempre pensei que a coisa nunca poderia ficar pior. Mas fica. Cada ano a violência fica maior. E o que me espanta é que não há gente a gritar contra isso. Agora inventaram a figura de um sabotador. Pois já não bastava colocar a possibilidade concreta de alguém [o espectador] eliminar outro [o broder “????”], o que, obviamente inaugura uma possibilidade por demais perversa de se apertar um botão e destruir o sonho de alguém, com requintes de crueldade. Uma coisa de uma maldade abissal. Então, o tal do sabotador é uma pessoa, do grupo, que precisa sabotar os seus companheiros para poder se safar. Inaugura-se assim mais uma instância da estúpida violência, a qual é parte intrínseca do “show”. Vi a cara do rapazinho. Estava em completo desespero. Precisava sabotar seus amigos. E o fez. Em nome do milhão.

Depois, um outro, ao atender ao telefone que sempre ordena uma sequência de maldades, obrigou-se a mandar sua colega para uma solitária, coisa que, nas cadeias, é motivo de grandes lutas dos grupos de direitos humanos. O garoto disse o nome da sentenciada, e seu rosto se cobriu de desespero. No dia em que ela saiu do castigo, enquanto os demais a abraçavam, ele se deixava cair, escorregando pela parede, chorando. Sabia, é claro, que aquela ação o colocava na mira da outra e na condição de um desgraçado que entrega seus colegas.

E assim vai o “grande irmão” propondo maldades e violências aos pobres sujeitos que ali entram em busca de um espaço na grande vitrine da vida. Confesso que a mim pouco se me dá se são homossexuais, trans, bi, héteros tarados, loucas, putas ou santas. Cada uma daquelas criaturas que ali estão quebrando todas as regras da ética do bem viver são pobres seres humanos, perdidos num mundo que exige da juventude bunda, músculo, peito e cabeça vazia. Não são eles os “imorais”. São vítimas. Querem mais do que as migalhas do banquete. Querem pegar com as unhas a promessa que o sistema capitalista traz na sua pedagogia da sedução: “‘qualquer um pode neste mundo livre”.

Tampouco me surpreende que um jornalista como Pedro Bial, dono de um texto refinado, esteja cumprindo o triste papel de fomentar a perda de todo o sentido ético que um ser humano pode ter. Ele, também buscando vencer nesse mundo que o capitalismo aponta como o melhor possível, fez a sua escolha. Optou por ser um sacerdote destes tempos vis. Um sacerdote muito bem pago.

O que me entristece é saber que essa pedagogia capitalista seguirá se fazendo todos os dias nas casas das gentes, que muitas vezes assistem ao programa porque simplesmente não têm outra opção. O melhor sinal é o da platinada. Pega em qualquer lugar deste grande país. Há os que vêem e nem gostam, mas ocorre que estas “lições” em que se eliminam pessoas, em que se traem os amigos, em que vale tudo, passam meio que por osmose. É a lavagem cerebral. É a violência extrema sendo praticada entre risos e apupos de “meus heróis”. Tudo pela “plata”.

Enquanto isso, como bem já levantaram alguns blogueiros, a Globo, junto com as companhias telefônicas, lucra rios de dinheiro com as ligações que as pessoas fazem para eliminar os “irmãos”. É galera, brother quer dizer irmão em inglês. E olha só o que se faz com um irmão? Essa é a “ética”. Os empresários globais lambem seus bigodes.

Então, fazer a crítica a esse perverso programa não é coisa de pseudo-esquerda. Deve ser obrigação de qualquer um que pensa o país. A questão do “grande irmão” não é moral. É ética. Trata-se da consolidação, via repetição, de uma pedagogia, típica do capitalismo, que pretender cristalizar como verdade que para que um seja feliz, outro tenha que ser “eliminado”. O show da Globo é uma violência explícita, cruel, nefanda, sinistra e miserável. É coisa ruim, malcheirosa. Penso que há outras formas de a gente se divertir, sem que para isso alguém tenha de se ferrar! Até mesmo os mais importantes cientistas mundiais já alardearam a verdade inconteste: vence quem coopera. Onde as pessoas, juntas, buscam o bem viver, ele vem...

* Elaine Tavares é jornalista em Santa Catarina e editora da revista Pobres e Nojentas

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sobre Ronaldinho Gaúcho

Aí meu amigo, carioca, flamenguista, chegou pra mim e disse: "tu fala sobre cinema, sobre Dilma, e não fala nada do meu Mengão!". Então aqui vai um post solidário e crítico sobre a novela de Ronaldinho Gaúcho. A novela foi mais ou menos assim: o craque, aos 30 anos de idade, há 10 jogando na Europa, resolveu voltar a jogar no Brasil. Aí começou a confusão. Parece que o Grêmio chegou a dar como certa a volta do rapaz, apesar de parte da torcida ter considerado traição a sua saída para o Paris Saint-Germain. Depois falaram que ele ia pro Palmeiras ou pro Flamengo. Ele chegou até a convocar uma coletiva, sempre acompanhado pelo Presidente do Milan, que certamente era o mais interessado ($$$) no assunto, mas só falou que ainda não sabia de nada. Depois disseram que o Flamengo ia dar uma festa no Sambódromo, e depois o Corinthians ia formar a mais famosa dupla de atacantes (de churrasco) que já houve. No final das contas, foi o Flamengo mesmo, aquele clube que tem uma Presidenta (agora tá na moda), que contratou o jogador.

A festa foi bonita, chamou a atenção da imprensa do mundo inteiro. Gaúcho parecia satisfeito, mesmo sem demonstrar muita intimidade com a camisa rubro-negra, e eu fiquei pensado o seguinte: "Por que essa briga toda por um jogador em fim de carreira?". Obviamente Ronaldinho ainda deve demorar alguns anos pra parar de jogar de vez, mas um atleta não pode ser o melhor do mundo a vida toda. O Milan ganhou uma grana preta na transação, e Ronaldinho vai receber um módico salário de R$ 1,3 milhão, entre o salário do Flamengo e as participações no marketing.

A resposta é a seguinte. Vale a pena trazer o rapaz sim. Porque brasileiro ama futebol. Esse amor todo se traduz em números, em marketing, campanhas publicitárias, ingressos, camisas, fotos. Alguns especialistas esperam que o Flamengo consiga gerar um lucro de R$ 3 milhões por mês, somente com essa contratação histórica. Só a título de curiosidade, todo mundo brinca que o outro Ronaldo tá gordo e não joga mais nada (o que não é verdade), mas o Corinthians ganhou muito dinheiro tendo ele lá, e com certeza os dirigentes devem estar se lamentando porque ele decidiu jogar só até o fim do ano.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sobre idas ao cinema

Ontem eu e minha querida esposa fomos ao cinema. O filme era o novo desenho animado da Disney, e, por razões óbvias, eu já estava psicologicamente preparado para usar técnicas extraordinárias de concentração diante do barulho das crianças. Engano meu. As crianças se comportaram bastante bem. Só uma menininha que chorou no momento dramático do filme, mas eu achei bonitinho, ela pensou que o herói ia morrer...

Sentamos do lado direito, nem muito na frente, nem muito atrás, e começamos a assistir o filme, que, por sinal é excelente, exceto pela dublagem de Luciano Huck. Nada que uma adição de legendas ao som original não resolva. Pois bem, o filme começou, e logo depois chegou uma mãe atrasada com uma menininha, e sentou na nossa frente. O problema é que a mulher era dessas magras e altas, e a cabeça dela ficou bem na minha frente. Calma! Eu não sou insensível! O fato de a mulher ser muito alta e ter uma cabeça de tamanho além do razoável não é culpa dela. Decidimos nos retirar e procurar outro lugar, já que a sala estava vazia.

Demos a volta por trás da sala e sentamos do lado direito, nem muito na frente, nem muito atrás. Agora tudo estava perfeito. Continuamos a assistir o filme, até que as risadas exageradas atrás começaram a funcionar. Eu me incomodo profundamente com adolescentes barulhentos. Eu sei que há uma explicação psicológica que leva em consideração a necessidade de auto-afirmação e o desenvolvimento de traços próprios de personalidade, mas, ainda assim, ninguém merece. Eu estava assistindo a um desenho animado agradável, bonitinho e ligeiramente bem-humorado, mas por um momento olhei para ver se a menina estava assistindo outra coisa no celular, ou ouvindo o programa do Mução. Pulamos umas três ou quatro fileiras para a frente.



Agora sim, tudo bem. Um lugar definitivo. Exceto pela menininha chutando a cadeira da minha esposa, mas crianças tem boas desculpas para não terem noção de convivência social.

Sobre desgraças ao longo do ano

Se você procurar alguns posts pra trás, vai encontrar um sobre a situação de Palmares e mais algumas outras cidades, em Pernambuco e Alagoas, que foram arrasadas pelas chuvas no meio de 2010. Mobilizações foram feitas. Em Recife muitas pessoas fizeram doações, alguns foram até lá ajudar a limpar toda a sujeira, e com certeza ajudaram a aliviar o sofrimento das vítimas dessa catástrofe. Pra quem não sabe, a estação das chuvas no litoral do Nordeste é invertida. Lá costuma chover bastante entre maio e setembro, ao contrário do resto do país, onde chove no verão.

Alguns meses antes, em janeiro de 2010, as chuvas causaram estragos enormes e tiraram muitas vidas em Niterói, Angra, e mais algumas cidades próximas. Quem não lembra da pousada soterrada em Angra dos Reis? Há mais ou menos dois anos, as enchentes arrasaram cidades em Santa Catarina. Pessoas perderam tudo. Minha pergunta é a seguinte: quem lembra dessas pessoas?

Eu escutei alguns ignorantes criticando as pessoas que não queriam sair de suas casas, em áreas de risco. Será que alguém acha que essas pessoas ficam lá porque querem? Elas simplesmente não tem outro lugar para ir... isso mesmo, existe gente que não tem família nem amigos a quem recorrer... essa é a cruel e dura realidade do nosso país.

Vamos pensar no que nós podemos fazer para ajudar as pessoas que não tem nada. Se precisarmos de desgraças para fins motivacionais, temos várias disponíveis, o ano inteiro...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sobre quem estava na posse de Dilma

Eu não vou escrever sobre o que aconteceu na cerimônia de posse. Se você quiser os detalhes sobre a roupa de Dilma, sobre o carro presidencial que foi dado a Getúlio Vargas na década de 1940 - e surpreendentemente tem somente 26 mil quilômetros rodados! - ou ainda sobre a mulher de Michel Temer, favor entrar em qualquer portal de notícias.

Eu estava lá na cerimônia, bem na frente do Palácio do Planalto, na parte inicial do aglomerado de gente que gritava intensamente quando Dilma subia a rampa, e mais ainda quando ela colocou a faixa presidencial. Eu votei em Dilma, mas não sou petista, nem míope o suficiente pra achar que todos os problemas do país estão resolvidos. Uma coisa, porém, é certa. O momento em que uma mulher assume a presidência em nossa jovem democracia é definitivamente histórico e emocionante.

Pois bem, o que me chamou a atenção foram as pessoas que estavam presentes. Admito que entrei no carro por insistência da minha querida esposa, achando que aquilo não ia dar certo. A chuva estava muito forte, eu quase não conseguia enxergar a pista. Além disso, eu detesto profundamente ficar procurando lugar pra estacionar, mas surpreendentemente, à medida que nos aproximamos da Esplanada dos Ministérios, a chuva foi diminuindo, e quando estacionamos (nem tão longe assim), não tinha mais chuva nenhuma.

O que realmente me chamou a atenção foram as pessoas que eu encontrei entre a multidão. Eu esperava uma festa popular, com a massa beneficiada pelos programas sociais do governo, tão falada durante a campanha e responsabilizada, junto com os nordestinos, pela eleição da presidenta. Completo engano. Pessoas bem vestidas, com tênis de marca e câmeras modernas para conseguir capturar as imagens distantes com precisão, faixas impressas em gráficas, que devem ter custado caro, tudo isso foi o que eu vi, em meio a uma multidão que não gerou tumulto em momento algum. Como eu já disse, fiquei bem na frente, e assim que o discurso de Dilma terminou no parlatório, voltei a caminhar em direção ao carro, com total tranquilidade, sem precisar me preocupar com nada a não ser percorrer a distância, que parecia ter ficado mais longa, talvez por causa da dor nas minhas pernas e costas.

Se você achava que os entusiastas de Dilma eram somente os pobres, engano seu. A classe média, que cresceu em números consideráveis nos últimos oito anos, está com ela também.