segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sobre o Big Brother

Artigo: A pedagogia do grande irmão platinado


Por Elaine Tavares* – 26/01/11

Outro dia li um artigo de alguém criticando o que chamava de pseudo-esquerda que fica falando mal do BBB, mas que também dá sua espiadinha. E também li outras coisas de pessoas falando sobre o quanto há de baixaria no “show de realidade” da Globo. Fiquei por aí a matutar. E fui observar um pouco deste zoológico humano que a platinada oferece na suas noites. Agora é importante salientar que a gente nem precisa assistir para saber tudo o que se passa. É só estar vivo para saber. As notícias estão no jornal, no ônibus, no elevador, em todos os lugares. Então esse papo de que quem critica é hipócrita porque também vê não tem qualquer sentido. As coisas da indústria cultural nos são impostas de forma quase que totalitária. É praticamente impossível fugir destes saberes. Mesmo no terminal, esperando o ônibus, lá está o anúncio luminoso onde buscamos o horário do busão, dando as “notícias” dos broders. É invasivo e feroz.

Mas enfim, sou um bicho televisivo, e gosto de ficar feito uma couve em frente ao aparelho de TV analisando o que é que anda engravidando as gentes deste grande país que se alfabetiza por esta janelinha. Lá fiquei acompanhando alguns episódios do triste programa. Deveras, me causa espécie. Mas não falo pelo quê de promíscuo ou imoral possa ter o “show”, já que coisas do tipo que se vêem ali também são possíveis de ver na novela, nos filmes, etc... O que me apavora é capacidade de ser tão perverso e desestruturador de consciências. Está bem, as pessoas estão ali porque querem, elas mandam vídeos, se oferecem, morrem até para estar naquela casa, em busca do que pensar ser seu lugar ao sol. Mas, ainda assim, é perverso demais o que os “inventores” fazem com aquelas tristes criaturas.

Sempre pensei que a coisa nunca poderia ficar pior. Mas fica. Cada ano a violência fica maior. E o que me espanta é que não há gente a gritar contra isso. Agora inventaram a figura de um sabotador. Pois já não bastava colocar a possibilidade concreta de alguém [o espectador] eliminar outro [o broder “????”], o que, obviamente inaugura uma possibilidade por demais perversa de se apertar um botão e destruir o sonho de alguém, com requintes de crueldade. Uma coisa de uma maldade abissal. Então, o tal do sabotador é uma pessoa, do grupo, que precisa sabotar os seus companheiros para poder se safar. Inaugura-se assim mais uma instância da estúpida violência, a qual é parte intrínseca do “show”. Vi a cara do rapazinho. Estava em completo desespero. Precisava sabotar seus amigos. E o fez. Em nome do milhão.

Depois, um outro, ao atender ao telefone que sempre ordena uma sequência de maldades, obrigou-se a mandar sua colega para uma solitária, coisa que, nas cadeias, é motivo de grandes lutas dos grupos de direitos humanos. O garoto disse o nome da sentenciada, e seu rosto se cobriu de desespero. No dia em que ela saiu do castigo, enquanto os demais a abraçavam, ele se deixava cair, escorregando pela parede, chorando. Sabia, é claro, que aquela ação o colocava na mira da outra e na condição de um desgraçado que entrega seus colegas.

E assim vai o “grande irmão” propondo maldades e violências aos pobres sujeitos que ali entram em busca de um espaço na grande vitrine da vida. Confesso que a mim pouco se me dá se são homossexuais, trans, bi, héteros tarados, loucas, putas ou santas. Cada uma daquelas criaturas que ali estão quebrando todas as regras da ética do bem viver são pobres seres humanos, perdidos num mundo que exige da juventude bunda, músculo, peito e cabeça vazia. Não são eles os “imorais”. São vítimas. Querem mais do que as migalhas do banquete. Querem pegar com as unhas a promessa que o sistema capitalista traz na sua pedagogia da sedução: “‘qualquer um pode neste mundo livre”.

Tampouco me surpreende que um jornalista como Pedro Bial, dono de um texto refinado, esteja cumprindo o triste papel de fomentar a perda de todo o sentido ético que um ser humano pode ter. Ele, também buscando vencer nesse mundo que o capitalismo aponta como o melhor possível, fez a sua escolha. Optou por ser um sacerdote destes tempos vis. Um sacerdote muito bem pago.

O que me entristece é saber que essa pedagogia capitalista seguirá se fazendo todos os dias nas casas das gentes, que muitas vezes assistem ao programa porque simplesmente não têm outra opção. O melhor sinal é o da platinada. Pega em qualquer lugar deste grande país. Há os que vêem e nem gostam, mas ocorre que estas “lições” em que se eliminam pessoas, em que se traem os amigos, em que vale tudo, passam meio que por osmose. É a lavagem cerebral. É a violência extrema sendo praticada entre risos e apupos de “meus heróis”. Tudo pela “plata”.

Enquanto isso, como bem já levantaram alguns blogueiros, a Globo, junto com as companhias telefônicas, lucra rios de dinheiro com as ligações que as pessoas fazem para eliminar os “irmãos”. É galera, brother quer dizer irmão em inglês. E olha só o que se faz com um irmão? Essa é a “ética”. Os empresários globais lambem seus bigodes.

Então, fazer a crítica a esse perverso programa não é coisa de pseudo-esquerda. Deve ser obrigação de qualquer um que pensa o país. A questão do “grande irmão” não é moral. É ética. Trata-se da consolidação, via repetição, de uma pedagogia, típica do capitalismo, que pretender cristalizar como verdade que para que um seja feliz, outro tenha que ser “eliminado”. O show da Globo é uma violência explícita, cruel, nefanda, sinistra e miserável. É coisa ruim, malcheirosa. Penso que há outras formas de a gente se divertir, sem que para isso alguém tenha de se ferrar! Até mesmo os mais importantes cientistas mundiais já alardearam a verdade inconteste: vence quem coopera. Onde as pessoas, juntas, buscam o bem viver, ele vem...

* Elaine Tavares é jornalista em Santa Catarina e editora da revista Pobres e Nojentas

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sobre Ronaldinho Gaúcho

Aí meu amigo, carioca, flamenguista, chegou pra mim e disse: "tu fala sobre cinema, sobre Dilma, e não fala nada do meu Mengão!". Então aqui vai um post solidário e crítico sobre a novela de Ronaldinho Gaúcho. A novela foi mais ou menos assim: o craque, aos 30 anos de idade, há 10 jogando na Europa, resolveu voltar a jogar no Brasil. Aí começou a confusão. Parece que o Grêmio chegou a dar como certa a volta do rapaz, apesar de parte da torcida ter considerado traição a sua saída para o Paris Saint-Germain. Depois falaram que ele ia pro Palmeiras ou pro Flamengo. Ele chegou até a convocar uma coletiva, sempre acompanhado pelo Presidente do Milan, que certamente era o mais interessado ($$$) no assunto, mas só falou que ainda não sabia de nada. Depois disseram que o Flamengo ia dar uma festa no Sambódromo, e depois o Corinthians ia formar a mais famosa dupla de atacantes (de churrasco) que já houve. No final das contas, foi o Flamengo mesmo, aquele clube que tem uma Presidenta (agora tá na moda), que contratou o jogador.

A festa foi bonita, chamou a atenção da imprensa do mundo inteiro. Gaúcho parecia satisfeito, mesmo sem demonstrar muita intimidade com a camisa rubro-negra, e eu fiquei pensado o seguinte: "Por que essa briga toda por um jogador em fim de carreira?". Obviamente Ronaldinho ainda deve demorar alguns anos pra parar de jogar de vez, mas um atleta não pode ser o melhor do mundo a vida toda. O Milan ganhou uma grana preta na transação, e Ronaldinho vai receber um módico salário de R$ 1,3 milhão, entre o salário do Flamengo e as participações no marketing.

A resposta é a seguinte. Vale a pena trazer o rapaz sim. Porque brasileiro ama futebol. Esse amor todo se traduz em números, em marketing, campanhas publicitárias, ingressos, camisas, fotos. Alguns especialistas esperam que o Flamengo consiga gerar um lucro de R$ 3 milhões por mês, somente com essa contratação histórica. Só a título de curiosidade, todo mundo brinca que o outro Ronaldo tá gordo e não joga mais nada (o que não é verdade), mas o Corinthians ganhou muito dinheiro tendo ele lá, e com certeza os dirigentes devem estar se lamentando porque ele decidiu jogar só até o fim do ano.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sobre idas ao cinema

Ontem eu e minha querida esposa fomos ao cinema. O filme era o novo desenho animado da Disney, e, por razões óbvias, eu já estava psicologicamente preparado para usar técnicas extraordinárias de concentração diante do barulho das crianças. Engano meu. As crianças se comportaram bastante bem. Só uma menininha que chorou no momento dramático do filme, mas eu achei bonitinho, ela pensou que o herói ia morrer...

Sentamos do lado direito, nem muito na frente, nem muito atrás, e começamos a assistir o filme, que, por sinal é excelente, exceto pela dublagem de Luciano Huck. Nada que uma adição de legendas ao som original não resolva. Pois bem, o filme começou, e logo depois chegou uma mãe atrasada com uma menininha, e sentou na nossa frente. O problema é que a mulher era dessas magras e altas, e a cabeça dela ficou bem na minha frente. Calma! Eu não sou insensível! O fato de a mulher ser muito alta e ter uma cabeça de tamanho além do razoável não é culpa dela. Decidimos nos retirar e procurar outro lugar, já que a sala estava vazia.

Demos a volta por trás da sala e sentamos do lado direito, nem muito na frente, nem muito atrás. Agora tudo estava perfeito. Continuamos a assistir o filme, até que as risadas exageradas atrás começaram a funcionar. Eu me incomodo profundamente com adolescentes barulhentos. Eu sei que há uma explicação psicológica que leva em consideração a necessidade de auto-afirmação e o desenvolvimento de traços próprios de personalidade, mas, ainda assim, ninguém merece. Eu estava assistindo a um desenho animado agradável, bonitinho e ligeiramente bem-humorado, mas por um momento olhei para ver se a menina estava assistindo outra coisa no celular, ou ouvindo o programa do Mução. Pulamos umas três ou quatro fileiras para a frente.



Agora sim, tudo bem. Um lugar definitivo. Exceto pela menininha chutando a cadeira da minha esposa, mas crianças tem boas desculpas para não terem noção de convivência social.

Sobre desgraças ao longo do ano

Se você procurar alguns posts pra trás, vai encontrar um sobre a situação de Palmares e mais algumas outras cidades, em Pernambuco e Alagoas, que foram arrasadas pelas chuvas no meio de 2010. Mobilizações foram feitas. Em Recife muitas pessoas fizeram doações, alguns foram até lá ajudar a limpar toda a sujeira, e com certeza ajudaram a aliviar o sofrimento das vítimas dessa catástrofe. Pra quem não sabe, a estação das chuvas no litoral do Nordeste é invertida. Lá costuma chover bastante entre maio e setembro, ao contrário do resto do país, onde chove no verão.

Alguns meses antes, em janeiro de 2010, as chuvas causaram estragos enormes e tiraram muitas vidas em Niterói, Angra, e mais algumas cidades próximas. Quem não lembra da pousada soterrada em Angra dos Reis? Há mais ou menos dois anos, as enchentes arrasaram cidades em Santa Catarina. Pessoas perderam tudo. Minha pergunta é a seguinte: quem lembra dessas pessoas?

Eu escutei alguns ignorantes criticando as pessoas que não queriam sair de suas casas, em áreas de risco. Será que alguém acha que essas pessoas ficam lá porque querem? Elas simplesmente não tem outro lugar para ir... isso mesmo, existe gente que não tem família nem amigos a quem recorrer... essa é a cruel e dura realidade do nosso país.

Vamos pensar no que nós podemos fazer para ajudar as pessoas que não tem nada. Se precisarmos de desgraças para fins motivacionais, temos várias disponíveis, o ano inteiro...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sobre quem estava na posse de Dilma

Eu não vou escrever sobre o que aconteceu na cerimônia de posse. Se você quiser os detalhes sobre a roupa de Dilma, sobre o carro presidencial que foi dado a Getúlio Vargas na década de 1940 - e surpreendentemente tem somente 26 mil quilômetros rodados! - ou ainda sobre a mulher de Michel Temer, favor entrar em qualquer portal de notícias.

Eu estava lá na cerimônia, bem na frente do Palácio do Planalto, na parte inicial do aglomerado de gente que gritava intensamente quando Dilma subia a rampa, e mais ainda quando ela colocou a faixa presidencial. Eu votei em Dilma, mas não sou petista, nem míope o suficiente pra achar que todos os problemas do país estão resolvidos. Uma coisa, porém, é certa. O momento em que uma mulher assume a presidência em nossa jovem democracia é definitivamente histórico e emocionante.

Pois bem, o que me chamou a atenção foram as pessoas que estavam presentes. Admito que entrei no carro por insistência da minha querida esposa, achando que aquilo não ia dar certo. A chuva estava muito forte, eu quase não conseguia enxergar a pista. Além disso, eu detesto profundamente ficar procurando lugar pra estacionar, mas surpreendentemente, à medida que nos aproximamos da Esplanada dos Ministérios, a chuva foi diminuindo, e quando estacionamos (nem tão longe assim), não tinha mais chuva nenhuma.

O que realmente me chamou a atenção foram as pessoas que eu encontrei entre a multidão. Eu esperava uma festa popular, com a massa beneficiada pelos programas sociais do governo, tão falada durante a campanha e responsabilizada, junto com os nordestinos, pela eleição da presidenta. Completo engano. Pessoas bem vestidas, com tênis de marca e câmeras modernas para conseguir capturar as imagens distantes com precisão, faixas impressas em gráficas, que devem ter custado caro, tudo isso foi o que eu vi, em meio a uma multidão que não gerou tumulto em momento algum. Como eu já disse, fiquei bem na frente, e assim que o discurso de Dilma terminou no parlatório, voltei a caminhar em direção ao carro, com total tranquilidade, sem precisar me preocupar com nada a não ser percorrer a distância, que parecia ter ficado mais longa, talvez por causa da dor nas minhas pernas e costas.

Se você achava que os entusiastas de Dilma eram somente os pobres, engano seu. A classe média, que cresceu em números consideráveis nos últimos oito anos, está com ela também.