quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre a atual situação da Nokia

Frequentemente os amigos me procuram pedindo ajuda pra escolher um celular pra comprar. Eu sempre respondo que a escolha depende do que você espera do equipamento, e de quanto você está disposto a gastar. Quase sempre, então, a pergunta seguinte é: "melhor comprar Nokia né?". E eu sempre respondo que não, a não ser que você seja adepto do simplismo, e queira um celular apenas para falar, mandar e receber SMS. Resolvi então escrever esse post pra explicar qual é a razão de eu não indicar esse fabricante, especificamente.

Em um post anterior, eu expliquei a grande guerra empresarial hoje no mercado de celulares high-tech, que tem vários fabricantes e o Google, com o Android, de um lado, e a Apple, com o iPhone, do outro. Entre os muitos fabricantes que eu cite, a Nokia não está incluída. Eles apostaram no desenvolvimento de uma plataforma chamada Symbian, que foi, por algum tempo, adotada por alguns outros fabricantes, mas deixada de lado com o surgimento do Android. A Nokia foi teimosa e continuou lá desenvolvendo celulares com Symbian, como o N95, que fez um sucesso absurdo, e até hoje muita gente tem, e até o N9, que foi lançado alguns dias atrás. Eles também utilizaram em alguns aparelhos uma espécie de Linux, que foi chamada de Maemo, e, depois de MeeGo, que é o presente no N900, que faz muito sucesso em outros países.

O que aconteceu foi que os aparelhos de alta performance da Nokia ficaram pra trás. Hoje as opções que você tem são gastar uma grana preta pelo glamour, design e usabilidade do iPhone, ou gastar valores variados para comprar um Android, já que o mercado tem celulares que custam entre R$ 400,00 e R$ 2.000,00. Tanto o iPhone quanto o Android tem suas lojas de aplicativos, com centenas de milhares de opções de software, boa parte gratuita, e outra custando muito pouco, que conferem ao equipamento funcionalidades variadas. Eu, por exemplo, uso aplicativos que me dão a previsão do tempo, o horário dos vôos em tempo real (usando a base de dados da Infraero), acesso a qualquer rede social, ou várias delas ao mesmo tempo e email, além dos comunicadores instantâneos, aplicativos de notas, texto, planilhas, pdf, etc. Enfim, você pode encontrar quase qualquer coisa, desde clientes de VPN até joguinhos pra quando você estiver esperando o dentista.

E a Nokia? Como ficou? Eles tentaram criar uma loja também, a OviStore, mas sem muitas vantagens para os desenvolvedores, e fracassaram. A virada aconteceu quando um sujeito chamado Stephen Elop saiu da Microsoft e foi para a nossa queridinha finlandesa. Logo depois, foi anunciada uma parceria da Nokia com a MSN, para fabricar celulares que usariam o novo sistema operacional dos amiguinhos de Bill Gates, chamado de Windows Phone 7. A Nokia não quis usar o Android de jeito nenhum, por várias razões, e a melhor alternativa que eles encontraram foi firmar essa parceria. No começo, disseram que ainda iam investir no MeeGo, mas logo desdisseram.

Tudo bem que as ações da Nokia caíram 8% no momento do anúncio, mas, ainda assim, eu acredito que, quando for lançado o primeiro Nokia com Windows Phone 7 (eles prometem pro fim de 2011), ele vai ser uma boa alternativa de compra, já que o tal sistema operacional está sendo muito bem recomendado pelos especialistas mundo afora.

Só pra arrematar a explicação, todas essas informações se referem aos chamados smartphones. No mercado pouco lucrativos dos celulares mais simples, a Nokia continua firme e forte com o Symbian, e é líder de mercado.

Sobre a buRRocracia

Ontem, conversando com bons amigos-filósofos-colegas-consurseiros aqui do trabalho, lembrei de um causo, e resolvi compartilhar.

Estávamos chegando em Brasília, eu tinha acabado de ser nomeado num concurso, e estávamos procurando um lugar pra morar enquanto eu me preparava para tomar posse. Pois bem, procuramos com muita paciência, olhamos dezenas de apartamentos, até encontrarmos aquele que agradou. Cheguei à imobiliária levando vários documentos.

- Quero alugar este apartamento (apontando no catálogo).
- Identidade, CPF, contracheque, comprovante de residência e certidão de casamento, com cópias, para analisarmos seu cadastro, por favor.
- Minha identidade e CPF estão aqui, e a certidão de casamento também, inclusive com cópias, mas eu não posso te dar um contracheque porque acabei de pedir demissão do antigo emprego para tomar posse num órgão público aqui em Brasília.
- Lamento, senhor. Sem o documento, não poderemos analisar seu cadastro.
- Mas veja bem, eu estou me mudando pra essa cidade justamente pra trabalhar em outro lugar. Como ainda não tomei posse, não tenho como comprovar essa renda.
- O senhor não tem contracheque ainda?
- Não, meu amigo, ainda não comecei a trabalhar.
- Então não vamos poder analisar seu cadastro, senhor. Somente com contracheque.
- Esse contracheque pode ser do mês passado?
- Acredito que não tenha nenhum problema.

Perceberam a situação bizarra? Eu comprovei a renda que eu não tinha mais, mesmo explicando isso ao atendente, e ele não viu nenhum problema nisso. Esse é o exemplo da burocracia, no mau sentido mesmo, aquela burocaria da cegueira, que todos nós chamamos de buRRocracia, e que apenas permite que os problemas sejam resolvidos com papeis, em vez de diálogo. Acham que o diálogo findou aí? Voltei no dia seguinte, e entreguei cópia do contracheque do mês anterior. À tarde me ligaram da imobiliária:

- Senhor Paulo, analisamos a documentação que o senhor entregou, mas percebemos a falta do comprovante de residência.
- Mas eu estou me mudando pra Brasília para trabalhar, e procurando um lugar pra morar. Como eu vou comprovar residência?

E viva a buRRocracia!

Sobre a morte de Paulo Renato

Dois posts seguidos sobre morte! Muito mórbido, não? Diferentemente do retromencionado Bin Laden, cuja morte foi comemorada em vários lugares do mundo, especialmente numa região localizada no noroeste do mapa-Mundi, a morte do ex-Ministro da Educação Paulo Renato foi noticiada com pesar pela imprensa brasileira na semana passada. Não conheço muito da trajetória política do rapaz, mas fiquei pensando a razão de se festejar o responsável direto pela estagnação educacional do governo de FHC, que é incontestável.

Finalmente encontrei as explicações, no primoroso post de Idelber Avelar, no blog Outro Olhar. Reproduzo na íntegra o conteúdo.



O QUE VOCÊ NÃO LEU NA MÍDIA SOBRE PAULO RENATO (1945-2011)


28 de junho de 2011 às 5:44
Morreu de infarto, no último dia 25, aos 65 anos, Paulo Renato Souza, fundador do PSDB. Paulo Renato foi Ministro da Educação no governo FHC, Deputado Federal pelo PSDB paulista, Secretário da Educação de São Paulo no governo José Serra e lobista de grupos privados. Exerceu outras atividades menos noticiadas pela mídia brasileira.
Nas hagiografias de Paulo Renato publicadas nos últimos dois dias, faltaram alguns detalhes. A Folha de São Paulo escalou Eliane Cantanhêde para dizer que Paulo Renato deixou um “legado e tanto” como Ministro da Educação. Esqueceu-se de dizer que esse “legado” incluiu o maior êxodo de pesquisadores da história do Brasil, nem uma única universidade ou escola técnica federal criada, nem um único aumento salarial para professores, congelamento do valor e redução do número de bolsas de pesquisa, uma onda de massivas aposentadorias precoces (causadas por medidas que retiravam direitos adquiridos dos docentes), a proliferação do “professor substituto” com salário de R$400,00 e um sucateamento que impôs às universidades federais penúria que lhes impedia até mesmo de pagar contas de luz. No blog de Cynthia Semíramis, é possível ler depoimentos às dezenas sobre o que era a universidade brasileira nos anos 90.

Ainda na Folha de São Paulo, Gilberto Dimenstein lamentou que o tucanato não tenha seguido a sugestão de Paulo Renato Souza de “lançar uma campanha publicitária falando dos programas de complementação de renda”. Dimenstein pareceu desconsolado com o fato de que “o PSDB perdeu a chance de garantir uma marca social”, atribuindo essa ausência a uma mera falha na campanha publicitária. O leitor talvez possa compreender melhor o lamento de Dimenstein ao saber que a sua Associação Cidade Escola Aprendiz recebeu de São Paulo a bagatela de três milhões, setecentos e vinte e cinco mil, duzentos e vinte e dois reais e setenta e quatro centavos, só no período 2006-2008.

Não surpreende que a Folha seja tão generosa com Paulo Renato. Gentileza gera gentileza, como dizemos na internet. A diferença é que a gentileza de Paulo Renato com o Grupo Folha foi sempre feita com dinheiro público. Numa canetada sem licitação, no dia 08 de junho de 2010, a FDE da Secretaria de Educação de São Paulo transfere para os cofres da Empresa Folha da Manhã S.A. a bagatela de R$ 2.581.280,00, referentes a assinaturas da Folha para escolas paulistas. Quatro anos antes, em 2006, a empresa Folha da Manhã havia doado a curiosa quantia–nas imortais palavras do Senhor Cloaca–de R$ 42.354,30 à campanha eleitoral de Paulo Renato. Foi a única doação feita pelo grupo Folha naquela eleição. Gentileza gera gentileza.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor do Grupo Folha. Os grupos Abril, Estado e Globo também receberam seus quinhões, sempre com dinheiro público. Numa única canetada do dia 28 de maio de 2010, a empresa S/A Estado de São Paulo recebeu dos cofres públicos paulistas–sempre sem licitação, claro, porque “sigilo” no fiofó dos outros é refresco–a módica quantia de R$ 2.568.800,00, referente a assinaturas do Estadão para escolas paulistas. No dia 11 de junho de 2010, a Editora Globo S.A. recebe sua parte no bolo, R$ 1.202.968,00, destinadas a pagar assinaturas da Revista Época. No caso do grupo Abril, a matemática é mais complicada. São 5.200 assinaturas da Revista Veja no dia 29 de maio de 2010, totalizando a módica quantia de R$1.202.968,00, logo depois acrescida, no dia 02 de abril, da bagatela de R$ 3.177.400, 00, por Guias do Estudante – Atualidades, material de preparação para o Vestibular de qualidade, digamos, duvidosíssima. O caso de amor entre Paulo Renato e o Grupo de Civita é uma longa história. De 2004 a 2010, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação de São Paulo transfere dos cofres públicos para a mídia pelo menos duzentos e cinquenta milhões de reais, boa parte depois da entrada de Paulo Renato na Secretaria de Educação.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grandes grupos de mídia brasileiros. Ele também atuou diligentemente em favor de grupos estrangeiros, muito especialmente a Fundação Santillana, pertencente ao Grupo Prisa, dono do jornal espanhol El País. Trata-se de um jornal que, como sabemos, está disponível para leitura na internet. Isso não impediu que a Secretaria de Educação de São Paulo, sob Paulo Renato, no dia 28 de abril de 2010, transferisse mais dinheiro dos cofres públicos para o Grupo Prisa, referente a assinaturas do El País. O fato já seria curioso por si só, tratando-se de um jornal disponível gratuitamente na internet. Fica mais curioso ainda quando constatamos que o responsável pela compra, Paulo Renato, era Conselheiro Consultivo da própria Fundação Santillana! E as coincidências não param aí. Além de lobista da Santillana, Paulo Renato trabalhou, através de seu escritório PRS Consultores – cujo site misteriosamente desapareceu da internet depois de revelações dos blogs NaMaria News eCloaca News–, prestando serviços ao … Grupo Santillana!, inclusive com curiosíssima vizinhança, no mesmo prédio. De fato, gentileza gera gentileza. E coincidência gera coincidência: ao mesmo tempo em que El País “denunciava”, junto com grupos de mídia brasileiros, supostos “erros” ou “doutrinações” nos livros didáticos da sua concorrente Geração Editorial, uma das poucas ainda em mãos do capital nacional, Paulo Renato repetia as “denúncias” no Congresso. O fato de a Santillana controlar a Editora Moderna e Paulo Renato ser consultor pago pelo Grupo Santillana deve ter sido, evidentemente, uma mera coincidência.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grupos de mídia, brasileiros e estrangeiros. O ex-Ministro também teve destacada atuação na defesa dos interesses de cursinhos pré-vestibular, conglomerados editoriais e empresas de software. Como noticiado na época pelo Cloaca News, no mesmo dia em que a FDE e a Secretaria de Educação de São Paulo dispensaram de licitação uma compra de mais R$10 milhões da InfoEducacional, mais uma inexigibilidade licitatória era anunciada, para comprar … o mesmíssimo produto!, no caso o software “Tell me more pro”, do Colégio Bandeirantes, cujas doações em dinheiro irrigaram, em 2006, a campanha para Deputado Federal do candidato … Paulo Renato! Tudo isso para não falar, claro, do parque temático de $100 milhões de reais da Microsoft em São Paulo, feito sob os auspícios de Paulo Renato, ou a compra sem licitação, pelo Ministério da Educação de Paulo Renato, em 2001, de 233.000 cópias do sistema operacional Windows. Um dos advogados da Microsoft no Brasil era Marco Antonio Costa Souza, irmão de … Paulo Renato! A tramóia foi tão cabeluda que até a Abril noticiou.

Pelo menos uma vez, portanto, a Revista Fórum terá que concordar com Eliane Cantanhêde. Foi um “legado e tanto”. Que o digam os grupos Folha, Abril, Santillana, Globo, Estado e Microsoft.